sábado, 30 de março de 2013

O JEJUM


“ Quando jejuardes, não vos ponhais tristes como os hipócritas, que desfiguram o semblante para que os homens vejam que eles estão jejuando. Em verdade vos digo que já receberam à sua recompensa.

Vós, quando jejuardes, perfumai a cabeça e lavai o rosto, a fim de que o vosso jejum não seja visível aos olhos dos homens e sim aos do vosso Pai, que tem presente a si o que haja de mais secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará”. (Mateus, 6:16-18).

Sabe-se que o jejum – abstenção ou redução na dose usual de alimentos, sólidos ou líquidos – constitui uma forma de penitência comum a várias religiões.
Os judeus, quando o praticavam, vestiam-se com saco, lançavam cinza sobre a cabeça e imprimiam ao rosto um ar de grande tristeza, tudo isso publicamente, com ostentação, para serem notados e louvados pelos outros.

Jesus, percebendo-lhes à hipocrisia e o orgulho, recomendou a seus discípulos que, ao fazerem esse sacrifício, não deixassem transparecer nenhum sinal de melancolia; ao contrário, que “perfumassem a cabeça e lavassem o rosto”, a fim de que não perdessem, aos olhos de Deus, o mérito que um sincero quebrantamento de alma poderia comunicar a esse costume.

Parece-nos que um dia de jejum por semana, como ainda hoje é observado por alguns, constitui, realmente, um hábito salutar, pois contribui para desintoxicar e manter o equilibrio de nosso organismo, resultando daí reflexos favoráveis até mesmo ao nosso psiquismo, ou seja, às nossas manifestações intelectuais e morais.

Conta-se, por exemplo, que certo dia, ao sair de um festim, Filipe de Macedônia foi procurado por uma pobre mulher, que lhe implorou a reparação de uma injustiça.
Como a condenasse, ela exclamou:

- Apelo!
- E para quem? Perguntou o rei.
- Para Filipe, em jejum.

Impressionado por essa resposta, ele decidiu reexaminar a questão e, depois, em nova disposição, modificou a sentença.
O Espiritismo, por não adotar ritual de espécie alguma, tem como estéril qualquer privação que obedeça a mero formalismo religioso, considerando mais importante que nos abstenhamos de qualquer pensamento, palavra ou ato maldoso, por contrários ao amor fraternal que a todos nos deve unir.

Acha meritório, entretanto, que nos privemos de alguma coisa necessária à nossa vida para dá-la a quem mais precise dela, porque aí haverá abnegação e caridade.
Recomenda, também, como exercício proveitoso ao nosso progresso espiritual, que sejamos sóbrios e moderados em tudo e, ao invés de mortificarmos a carne, o que, muitas vezes, só serve para arruinar nossa saúde, impedindo-nos de bem cumprir a lei do trabalho e deveres outros para com o meio social, tratemos de mortificar os nossos instintos inferiores, privando-os da satisfação de prazeres grosseiros ou inúteis, para não adquirirmos hábitos viciosos que, uma vez enraizados, tornar-se-ão dificeis de extirpar.

Outra forma de jejum que não se cansa de aconselhar é a castidade, ou melhor, o emprego metódico das forças geradoras, porque, conforme está hoje comprovado, o abuso dos prazeres sexuais ocasiona a fraqueza cerebral, determina esgotamento das energias mais nobres e conduz à decadência moral, senão mesmo à loucura.

Tais forças, quando controladas racionalmente, canalizam-se para as funções mais elevadas do homem: as da mente e do coração; e, sublimando-o, tornam-no aptos a grandiosas realizações em prol da coletividade. E isso, sem dúvida, será a maior recompensa que um discípulo do Cristo pode almejar.

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989

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