A família de Jesus (Mt 12:46/50, Mc 3:31/35 e Lc 8:19/21)
Jesus havia começado o seu ministério. Percorrendo a
Galileia, pregara a boa nova do reino dos céus, realizara curas e fenômenos
admiráveis, atraindo multidões, fazendo muitos discípulos.
Ao voltar para Cafarnaum, sua cidade e sua casa, a multidão
afluiu de novo e de tal modo que Jesus e discípulos nem podiam fazer uma
refeição.
À porta da casa chegaram sua mãe, irmãos e irmãs.

Mas não conseguiram entrar, por causa da multidão, que
lotava completamente a casa. A notícia de que a família de Jesus chegara entrou
e foi passando de boca em boca, até alcançar os que estavam mais perto do
Mestre, que o avisaram: “Aí fora estão tua mãe, teus irmãos e irmãs e te
chamam”.
Jesus respondeu, perguntando: “Quem é minha mãe e quem são
meus irmãos?”
A pergunta surpreendeu a todos e também nos surpreende, por
dar a impressão de um Jesus desligado dos familiares, indiferente a eles, que
não daria valor aos laços de família, renegando talvez a própria mãe,
contrariando sua pregação e exemplificação de amor ao próximo.
Entenderemos melhor a atitude de Jesus se, no capítulo 3 do
evangelista Marcos, retrocedermos ao versículo 21, que informa: ao ouvirem
dizer que Jesus estava no meio de uma multidão atraída por seus feitos, seus
parentes exclamaram: “Está fora de si”. Acreditavam estivesse Jesus
transtornado, porque fora de seu comportamento normal. Não nos admiraremos de que pensassem assim, pois, até então,
não haviam escutado as pregações de Jesus nem presenciado os seus feitos. E o
evangelista João informaria que “os irmãos de Jesus não acreditavam nele”, isto
é, não achavam que ele fosse um emissário divino. Talvez temessem, também, que
o procedimento de Jesus os pudesse prejudicar ante as autoridades judaicas,
pois escribas que tinham vindo de Jerusalém afirmavam estar Jesus possesso de
um espírito “imundo”.
Por não acreditarem na missão de Jesus, pensaram: “está fora
de si e saíram para o prender”. Por isso estavam ali! E traziam consigo a mãe
de Jesus, na esperança de comovê-lo e persuadi-lo a interromper e abandonar as
atividades que começara e que tanto os escandalizavam, porque não as
compreendiam nem podiam aceitar. E Maria, que não abandonaria Jesus nem mesmo
na crucificação, ali estava, ao lado do filho, protegendo-o de eventuais
maus-tratos.
“Aí fora estão tua mãe, teus irmãos e irmãs e te chamam…”
Mas tinham vindo para o prender. E Jesus sabia, sem precisar, para isso, de
qualquer aviso espiritual nem de transmissão telepática, talvez apenas por
conhecer seus parentes, o modo de pensar deles.
Que fez ele? Denunciou a todos a intenção de seus familiares,
acusando-os ou os agredindo? Não, nem se deixou apanhar e deter, que fosse
interrompido sua tarefa missionária.
“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” Indagou Jesus, e
correu o olhar pelos que estavam assentados ao seu redor. Não eram do mesmo
sangue, mas estavam unidos a ele pelo anseio de conhecer a Deus e cumprir as
suas leis, prontos a aceitar a orientação que ele lhes desse e a partilhar com
ele a luta pelo mesmo ideal. Aproveitando o incidente, ensinou: “Todo aquele
que fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, e irmã, e mãe”. Revelava que,
além da família consanguínea e da parentela corporal, existe a família
espiritual, formada pela afinidade do pensar, sentir e agir.
Quem quiser fazer parte da família espiritual de Jesus, já
sabe que precisa cumprir a vontade de Deus, em todos os momentos.
Therezinha Oliveira
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