quinta-feira, 7 de março de 2013

A Família do corpo e do espírito



 A família de Jesus (Mt 12:46/50, Mc 3:31/35 e Lc 8:19/21)


Jesus havia começado o seu ministério. Percorrendo a Galileia, pregara a boa nova do reino dos céus, realizara curas e fenômenos admiráveis, atraindo multidões, fazendo muitos discípulos.

Ao voltar para Cafarnaum, sua cidade e sua casa, a multidão afluiu de novo e de tal modo que Jesus e discípulos nem podiam fazer uma refeição.

À porta da casa chegaram sua mãe, irmãos e irmãs.

Notam os mais cuidadosos que José, seu pai, não é citado. Talvez já houvesse desencarnado. E quanto a irmãos e irmãs? Poderiam ser filhos do primeiro casamento de José que, diz a tradição, era viúvo ao se casar com Maria. Ou quem sabe primos, também chamados de irmãos. Nada impede, porém, que Maria tenha tido outros filhos, depois de seu primogênito, Jesus. O fato é que ali estavam familiares de Jesus e queriam falar com ele.

Mas não conseguiram entrar, por causa da multidão, que lotava completamente a casa. A notícia de que a família de Jesus chegara entrou e foi passando de boca em boca, até alcançar os que estavam mais perto do Mestre, que o avisaram: “Aí fora estão tua mãe, teus irmãos e irmãs e te chamam”.

Jesus respondeu, perguntando: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”

A pergunta surpreendeu a todos e também nos surpreende, por dar a impressão de um Jesus desligado dos familiares, indiferente a eles, que não daria valor aos laços de família, renegando talvez a própria mãe, contrariando sua pregação e exemplificação de amor ao próximo.

Entenderemos melhor a atitude de Jesus se, no capítulo 3 do evangelista Marcos, retrocedermos ao versículo 21, que informa: ao ouvirem dizer que Jesus estava no meio de uma multidão atraída por seus feitos, seus parentes exclamaram: “Está fora de si”. Acreditavam estivesse Jesus transtornado, porque fora de seu comportamento normal.       Não nos admiraremos de que pensassem assim, pois, até então, não haviam escutado as pregações de Jesus nem presenciado os seus feitos. E o evangelista João informaria que “os irmãos de Jesus não acreditavam nele”, isto é, não achavam que ele fosse um emissário divino. Talvez temessem, também, que o procedimento de Jesus os pudesse prejudicar ante as autoridades judaicas, pois escribas que tinham vindo de Jerusalém afirmavam estar Jesus possesso de um espírito “imundo”.

Por não acreditarem na missão de Jesus, pensaram: “está fora de si e saíram para o prender”. Por isso estavam ali! E traziam consigo a mãe de Jesus, na esperança de comovê-lo e persuadi-lo a interromper e abandonar as atividades que começara e que tanto os escandalizavam, porque não as compreendiam nem podiam aceitar. E Maria, que não abandonaria Jesus nem mesmo na crucificação, ali estava, ao lado do filho, protegendo-o de eventuais maus-tratos.

“Aí fora estão tua mãe, teus irmãos e irmãs e te chamam…” Mas tinham vindo para o prender. E Jesus sabia, sem precisar, para isso, de qualquer aviso espiritual nem de transmissão telepática, talvez apenas por conhecer seus parentes, o modo de pensar deles.

Que fez ele? Denunciou a todos a intenção de seus familiares, acusando-os ou os agredindo? Não, nem se deixou apanhar e deter, que fosse interrompido sua tarefa missionária.

“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” Indagou Jesus, e correu o olhar pelos que estavam assentados ao seu redor. Não eram do mesmo sangue, mas estavam unidos a ele pelo anseio de conhecer a Deus e cumprir as suas leis, prontos a aceitar a orientação que ele lhes desse e a partilhar com ele a luta pelo mesmo ideal. Aproveitando o incidente, ensinou: “Todo aquele que fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, e irmã, e mãe”. Revelava que, além da família consanguínea e da parentela corporal, existe a família espiritual, formada pela afinidade do pensar, sentir e agir.

Quem quiser fazer parte da família espiritual de Jesus, já sabe que precisa cumprir a vontade de Deus, em todos os momentos.

Therezinha Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário