Dona Rita, mulher singular, idosa e analfabeta não conseguia
entender o que a televisão tanto falava e repetia durante toda a manhã daquela
quarta-feira, dia 05/12. Repetidas vezes ouvia que a “mãe dela” havia morrido e
pessoas se revezavam falando a respeito do acontecimento. Dona Rita pensava que
devia se tratar da mãe de alguém muito conhecido, talvez algumas dessas
artistas que costumava acompanhar pelas novelas diárias que assistia depois de
parar as suas atividades caseiras.
Desconhecia a D. Rita que naquele dia o mundo dos encarnados se despedia
de um dos maiores exponenciais de mudança e renovação de um povo, desde Gandhi.
A Terra estava naquele dia dando adeus ao grande Nélson Mandela, sobrenome
entendido como se tratasse da “mãe dela”. Homem que foi o ícone da derrubada de
um dos mais cruéis regimes depois do Holocausto, Mandela resistiu a décadas de
privação da liberdade física e colecionou perdas de amigos e familiares
devastados pela incoerência de um governo que decretou a segregação e condenou
a cor da pele negra sem respeitar a dignidade humana que nos torna iguais.
Liberto é
ovacionado pelo povo que defendia, mas tornado o primeiro mandatário da África
do Sul, diferente do que temia o mundo e certamente desejavam muitos dos seus
partidários que era a revanche, resgata o sonho de Martin Luther King e
desfralda a bandeira da paz. No discurso de posse como presidente daquele país
fala da construção de um novo tempo, sem ódios, sem vingança, uma aposta na
cultura da igualdade racial e do respeito humano antes de qualquer alternativa.
Suas palavras naqueles 10 de maio de 1994 não permitiam dúvidas quanto as suas
intenções: “Chegou o momento de sarar as feridas. Chegou o momento de transpor
os abismos que nos dividem. Chegou o momento de construir.” É certo que usou
armas e comandou guerrilhas durante as agruras das perseguições, mas soube
respirar a paz tão logo lhe coube as regalias de comandar a vida daquela nação,
inaugurando uma nova era para o seu povo.
O Evangelho Segundo o Espiritismo em seu capítulo XVII (Sede
Perfeitos) assinala entre as muitas características do homem de bem que “Não
alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e
esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe
será conforme houver perdoado.” Dessa forma e por outras tantas razões podemos
distinguir o querido Nélson Mandela, que se despede dessa encarnação, com a
qualidade de ter-se tornado um homem de bem.
Nosso respeito ao grande líder. Homem que nos deixou uma
herança que pode fazer a humanidade caminhar num projeto de união e renovação.
Suas palavras são precursoras de um novo tempo: “Ninguém nasce odiando outra
pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para
odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser
ensinadas a amar.”
Eis um exemplo digno de ser seguido. À Mandela, dona Rita,
as nossas saudações nessa noite.
Nota 1: editorial do
programa Antena Espírita de 07/12/2013.
(Roberto Caldas - editorialista do programa Antena Espírita e voluntário
do C.E. Grão de Mostarda).
Texto retirado do blog "Canteiro de idéias"
Texto retirado do blog "Canteiro de idéias"
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