Uma proposta pedagógica
Por Rita Foelker
RESUMO DOS OBJETIVOS E MEIOS
1. O que é Filosofia Espírita para Crianças?
A Filosofia Espírita, às vezes, é encarada como o
conjunto das crenças espíritas a respeito do Universo e do ser humano. Porém,
fazer filosofia na prática , ou seja, praticar um ensino filosófico, não é
simplesmente transmitir princípios da crença espírita. É analisar estes
princípios, questioná-los, buscar compreender melhor o seu significado e as
suas consequências, especialmente as de ordem moral e ética.
Não se aceitam ideias como verdadeiras por
imposição, mas sabendo porque as aceitamos. Esta é a essência da atitude
filosófica: compreender o sentido e as consequências da realidade.
As crianças são filósofas espontâneas. Não
precisamos lhes impingir um olhar admirado e curioso perante a vida, porque
querem, com entusiasmo, saber o que são as coisas e porque elas são assim e não
de outro jeito.
Filosofia Espírita para Crianças é uma proposta
pedagógica que pretende ajudar crianças e jovens nesta sua busca natural,
agregando um método de trabalho que, sem tirar a naturalidade e espontaneidade
do processo investigativo, resulte na produção de conhecimento com significado
e em bases racionais.
2. Para que serve a Filosofia Espírita para
Crianças?
O objetivo desta proposta pedagógica é auxiliar
crianças e jovens a encontrar, ao filosofar, a explicação racional que sustente
suas ações morais e resulte em melhoria e manutenção de uma atitude mais
positiva e construtiva perante a vida.
A explicação racional se obtém ampliando o
conhecimento e raciocinando sobre os princípios do Espiritismo, compreendendo
seu significado e os desdobramentos práticos de cada um em nossa vida
espiritual, pessoal e social.
Princípios do
Espiritismo (1)
Os princípios do Espiritismo são conceitos que
formam a estrutura básica do pensamento espírita. São eles:
1. Deus,
2. Espírito e matéria
(os elementos da criação),
3. Imortalidade,
4. Reencarnação,
5. Progressão dos
Espíritos (evolução),
6. Livre-arbítrio,
7. Causa e efeito,
8. Fluidos,
9. Períspirito,
10. Mediunidade,
11. Pluralidade dos
mundos habitados,
12. Espíritos em
erraticidade,
13. Influência dos
Espíritos na nossa vida e
14. Influência dos
Espíritos na Natureza.
São ideias que, uma vez modificadas ou
descaracterizadas, descaracterizam a própria Doutrina, o que nos leva a
relacioná-las à própria identidade do Espiritismo, enquanto filosofia.
Os princípios do Espiritismo formam uma rede de
inter-relações que compõem, para aquele que os conhece, uma sólida base
filosófica e ética.
Para quem é espírita ou não, o conhecimento dos
princípios torna possível raciocinar e entender a vida através de uma visão
racional, gerando resultados práticos nas mais diferentes situações. A sua
compreensão aprofundada melhora nossa capacidade de reflexão, ajuda no exercício
do diálogo interior e na manutenção de maior segurança e harmonia.
É imprescindível que o educador espírita se torne
um estudioso da Doutrina, a fim de conseguir percebe-los na dinâmica da
existência, de poder falar sobre eles com desenvoltura e participar da
construção de raciocínios pertinentes a seu respeito.
Valores
A manutenção de atitudes positivas e construtivas
perante a vida só é possível quando nossas escolhas são norteadas por valores
verdadeiros e perenes.
Os valores considerados fundamentais para uma vida
digna e feliz, voltada à evolução do Ser espiritual, levando em conta sua
participação na vida social e planetária, são, segundo a Filosofia
Espírita para Crianças:
- Autoconhecimento - Os temas serão
sempre estudados de a partir da perspectiva do educando e de acordo com a
sua necessidade e observação. Os questionamentos o encaminharão para
dentro de si mesmo, conhecendo seu pensar e o seu sentir a respeito deles.
- Autenticidade - Ao contrário da
educação repressiva que conduz à hipocrisia, o diálogo prezará a
autenticidade, incentivando à legítima expressão por parte de todos os
envolvidos, daquilo que pensam e sentem. A autenticidade será também
valorizada diante de todas as demais situações da vida.
- Auto
responsabilidade -
O estudo buscará possibilitar a compreensão clara da nossa
responsabilidade exclusiva pela nossa própria felicidade e infelicidade,
assim como da responsabilidade de cada um como agente modificador do meio
em que se encontra.
- Fé - Todos os temas
levarão em conta a ordem superior representada pelas leis naturais que
governam o Universo e os atributos de Deus, perfeito, soberanamente justo
e bom.
- Amor - Em todas as
oportunidades serão incentivados os sentimentos de amizade e amor no
grupo, através do respeito e da aceitação, do desejo do bem em relação a
todos. Por extensão, exercitaremos o amor ao próximo e à Natureza.
O importante é impregnar nossa conduta e nossa
prática nestes valores, de modo que eles se tornem o próprio jeito do educador
ser e se comportar. Apenas compartilhando e vivenciando estes ideais, podemos
compreender seu sentido e suas conseqüências.
3. Como funciona a Filosofia Espírita para
Crianças?
Basicamente, a Filosofia Espírita para
Crianças cria um espaço para a aprendizagem significativa, para o
aprofundamento nos conceitos espíritas básicos e a percepção de suas relações
com a vida prática. As características da investigação filosófica que
realizamos são as seguintes:
- Cultivo
das habilidades do pensamento
- Busca
de sentidos da realidade e percepção das consequências
- Liberdade
de questionamento
- Comunicação
fluente e participação ativa
- Relação
teoria/prática
- Respeito
a todos os pensamentos e opiniões
Além delas, é importante compreender os processos
presentes nessa investigação:
Experimentar/Vivenciar
A prática do ensino filosófico está vinculada a um
grau possível de experiência dos temas estudados, a fim de gerar reflexões e
ensejar transformações interiores.
Parte-se então de um exemplo prático do cotidiano
do educando, ou da Natureza, ou de uma atividade vivencial. Essa atividade não
apenas fará pensar, mas olhar para si mesmo, avaliar as próprias escolhas e
modos de pensar e sentir, enfim, interagir com o tema em estudo.
Ao educador cabe encontrar estratégias que levem os
educandos a experimentar os conceitos abordados em profundidade.
Dialogar/Interagir
Em lugar do monólogo, onde um apenas
ensina e os demais aprendem, pratica-se o diálogo.
E o que é o diálogo? É uma relação
horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade
(Jaspers). Nutre-se de amor, de humanidade, de esperança, de fé, de confiança.
Por isso, somente o diálogo comunica. E quando dois pólos do diálogo seligam
assim, com amor, com esperança, com fé no próximo, se fazem críticos na procura
de algo e se produz uma relação de "empatia" entre ambos. Só ali há
comunicação.
(...) É no diálogo que nos opomos ao
antidiálogo tão entranhado em nossa formação histórico-cultural, tão presente
e, ao mesmo tempo, tão antagônico ao clima da transição. O antidiálogo, que
implica numa relação de A sobre B, é o oposto a tudo isso. É desamoroso. Não é
humilde. Não é esperançoso; arrogante, autosuficiente. Quebra-se aquela relação
de "empatia" entre seus pólos, que caracteriza o diálogo. Por tudo isso,
o antidiálogo não comunica. Faz comunicados.
Precisávamos de uma
pedagogia da comunicação com a qual pudéssemos vencer o desamor do antidiálogo.(2)
O método dialógico leva os alunos a pensar sobre o
significado de suas palavras e sobre as consequências de seus pensamentos,
vivenciando os conceitos na prática em lugar de apenas aprender a "falar
sobre" eles.
Pensentir
Pensar é um ato. Sentir é um fato. Clarice
Lispector.
"Pensentir" é uma destas palavras que
surgem para significar uma ideia que ainda não se conseguia expressar.
Ela nasceu nos diálogos do Grupo de Filosofia
Espírita para Crianças, como uma necessidade para falar do que buscávamos no
ensino filosófico que nos propúnhamos a desenvolver: pensentir os conceitos.
Não só pensar e raciocinar, não só sentir e
vivenciar, mas fazer tudo ao mesmo tempo!
Em nossa sociedade, ciência e intelectualidade são
altamente valorizadas. Nossas escolas (e mesmo alguns ambientes espíritas)
estão lotadas deste saber "científico, intelectual" que, embora tenha
seu valor num contexto mais amplo, quando está sozinho, não ajuda a pessoa a
conhecer a si mesma e a se transformar.
Quase não se vê esforço consciente de aprender
sobre o sentir. Fala-se da necessidade de ser caridoso, mas pouco se fala de
sentimentos presentes e emoções reais.
As pessoas agem motivadas por emoções e
sentimentos. Por isso, ao analisar questões e situações morais usando apenas a
razão, teremos apenas uma visão parcial das mesmas. Não dá para conversar sobre
transformação interior sem falar no pensar/sentir/PENSENTIR.
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