Em oração, viu o Dr. Bezerra de Menezes, o generoso
Benfeitor espiritual.
Logo apelou:
– Dr. Bezerra, rogo-lhe que me auxilie. Estou passando
muito mal. Não lhe peço como gente, mas na condição de besta. Façamos de conta
que eu estou fazendo parte de uma carroça de trabalho, para mim preciosa, que é
a mediunidade. Preciso voltar para a minha carroça, doutor. Tenha dó desta
besta! Como pessoa eu não mereço, mas como besta, quero trabalhar!
E ele, sorrindo:
– Você, besta, Chico? E eu, quem sou?
– O senhor é o veterinário de Deus.
Chico contou este episódio num programa de televisão,
quando lhe perguntaram se os Espíritos também apreciam momentos de humor.
Destacou que sim, informando que o Dr. Bezerra recebeu com gostosa gargalhada
sua observação.
Considerando-se o humor como um estado de espírito,
obviamente iremos encontrar, assim como no plano físico, gente bem ou
mal-humorada do outro lado.
Diríamos mesmo que um dos detalhes a levar em
consideração, quando se pretenda identificar a condição das entidades que se
manifestam em reuniões mediúnicas, diz respeito ao seu humor.
Espíritos irritados, agressivos, certamente nos lembram o
refrão do samba famoso, de Dorival Caymmi:
Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da
cabeça ou doente do pé.
Quem não curte o bom humor, Espírito bom não é. Tem
perturbação na cachola ou coração sem fé.
Vale, também, para os reencarnados.
O bom humor é a marca registrada dos Espíritos
Superiores, em trânsito pela Terra.
Enfrentam os dissabores da existência, lutas e desafios,
sem jamais pretenderem que carregam o peso do Mundo nas costas.
O próprio Chico, embora sua infância atribulada e as
lutas que enfrentou durante a existência inteira, estimava a alegria.
Revelam os que tiveram a ventura de privar de sua
intimidade que ele estava sempre animado, disposto a ressaltar aspectos
positivos de seu dia-a-dia, sem tempo ruim.
Allan Kardec – quem diria! –, que muitos imaginam sisudos
e circunspectos, não era nada disso.
Quem o revela é Henri Sausse, contemporâneo e biógrafo do
Codificador (O Principiante Espírita, 15. ed. FEB, p. 47.):
Erraria quem acreditasse que, em virtude dos
seus trabalhos, Allan Kardec devia ser uma personagem sempre fria e austera.
Não era, entretanto, assim. Esse grave filósofo, depois de haver discutido
pontos mais difíceis da psicologia e da metafísica transcendental, mostrava-se
expansivo, esforçando-se por distrair os convidados que ele frequentemente
recebia na Vila Segura; conservando-se sempre digno e sóbrio em suas
expressões, sabia adubá-las com o nosso velho sal gaulês em rasgos de
causticante e afetuosa bonomia. Gostava de rir com esse belo riso franco, largo
e comunicativo, e possuía um talento todo particular em fazer os outros
partilharem do seu bom humor.
Espíritos que se destacam, nos campos do Bem e da
Verdade, bem à nossa frente no exercício de viver, demonstram claramente que
tristeza não paga dívidas.
Os sofrimentos maiores que enfrentamos não decorrem dos
percalços da existência, mas do
fato de não sabermos encará-los com bom ânimo
e, mais que isso, não sabermos sorrir.
Afinal, a vida é um espelho em que nos miramos.
Se sorrirmos para ela, abrirá sorriso para nós.
(Revista Reformador nº 2123, de fevereiro de 2006)
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