segunda-feira, 4 de março de 2013

A Morte não existe


Ela era senhora da alta sociedade da cidade do Rio de Janeiro, no começo do século. Chamava-se Júlia.


Seu pai conhecidíssimo homem público.

Enviuvara seis meses atrás quando dos fatos aqui narrados, embora ainda muito jovem, dedicava todo o seu tempo, de moça rica e sem muitos afazeres domésticos a cuidar da sua filha adorada, Ester.

Um dia, a menina passou por certa problemática, e veio a desencarnar; embora os recursos financeiros, clínica famosa e os melhores médicos e remédios...
Desse dia em diante, a mãe passou das lágrimas ao desespero, e, caiu numa depressão tamanha, que era somente amenizada com a visita diária ao túmulo da filhinha e, depois ao do marido, vivendo entre os mortos alheia a tudo o que se passasse ao redor.

Toda de luto fechado, portando flores e vasos com plantas a senhora pegava diariamente na porta da sua residência, nas Laranjeiras, um bonde e descia no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Voltava mais confortada para imediatamente cair em depressão horas após... Os avós da criança, com quem ela morava, não sabiam mais o que fazer... Tudo era em vão!

Os avós estavam determinados em transferirem-se para o bairro de Copacabana mas Júlia relutava em sair da residência onde fora feliz...

Certa feita, seu pai, homem experiente e famosíssimo, notou que a filha não chorava mais pelos cantos da bela residência. Até sorria enigmaticamente e, ele passou disfarçadamente, a vigiar-lhe os passos. Algo deveria estar acontecendo...

Nesse acompanhar disfarçado, os familiares passaram a perceber que ela não ia mais tantas vezes ao cemitério durante a semana, não comprava tantas flores, nem chorava tanto... Que estaria ocorrendo? Será que a filha passara da tristeza para uma fase de loucura? Ela sorria...sorria...

Uma serviçal da casa, que ali labutava há vários anos contou ao patrão que todo dia às 18 horas o telefone tocava e a moça conversava, sorria, conversava, bem baixinho, em surdina...

Então, o ilustre homem passou a julgar que algum caça-dotes, sabendo da carência da filha amada e do desencarne da sua netinha, por certo, num desses passeios de bonde a teria conhecido e a estaria seduzindo! Seriam essas chamadas telefônicas certamente feitas pelo que a estaria seduzindo com vãs promessas! Quem seria? Algum conhecido? Num tempo em que pouquíssimas pessoas possuíam tais aparelhos e em que as chamadas eram feitas por intermédio da telefonista, quem saberia o número da residência palaciana onde moravam? Eram tão discretos seus moradores...mas aquelas saídas de bonde...O telefone tilintou, a jovem correu para atendê-lo.

Seu pai muito envergonhado, mas certo de que fazia o melhor em benefício da família, subiu ao segundo andar, pegou a extensão do escritório e , estarrecido ouviu uma voz de criança a conversar com a mãezinha enlutada:

"- Alô mamãe, são seis horas da noite; sou eu de novo, sua filha Ester, conforme lhe prometi noutras chamadas telefônicas, aqui estou eu! Mãezinha, a morte não existe! A vida continua! Não morri, mamãe! Moro somente noutro lugar. Você está bem mais forte, estou gostando, continue sem chorar, sim? Não vá ao cemitério, não estou lá, está bem?"

"- Está bem minha amada filhinha, meu anjo, meu amor, prometo ser bem forte, não chorar mais."
A voz era realmente de Ester, contava fatos que somente eles sabiam mas só podia ser uma brincadeira de alguém mal intencionado.

O famoso político e escritor, pai da senhora e avô da desencarnada passou a ter a convicção de que alguém, desejando molestar sua família fazia aquela brincadeira de mau-gosto. Que, por enquanto, estava dando certo, pois percebia a filha cada vez mais otimista... mas quando ela viesse a descobrir a farsa, por certo ficaria em piores condições!!!

Com seu prestígio, o ilustre conterrâneo  conseguiu grampear todas as chamadas destinadas à sua residência; funcionários competentes da companhia telefônica, ficaram nos postes, em frente da casa, 24 horas, por vários dias, a fim de se descobrir quem seria o autor daquela maldade.

Por uma semana , sem faltar um dia sequer, o telefone tilintou às 18 horas, e, Júlia conversou com Ester e foi se fortalecendo cada vez mais com a certeza de que a filhinha estava ótima, onde se encontrava!

Após uma semana, o laudo da companhia foi mandado em envelope lacrado para o morador, para o assinante e dizia assim: "O telefone jamais tocou do poste, dos fios, para sua residência; jamais a telefonista foi acionada para qualquer chamada telefônica às 18 horas, a fim de completar qualquer chamada.."

Coelho Neto perguntou então à querida filha:

"- Como você faz a chamada?"

"- Ora, papai quando eu lhe quero falar a chamo com o coração, com amor e ouço-lhe a voz!"

Nosso ilustre amigo, convocou familiares, conhecidos e admiradores, e, no amplo e conceituado clube próximo de sua residência, o Fluminense Futebol Clube, situado na Rua Álvaro Chaves, em Laranjeiras, contou a todos os que ali estavam essa belíssima passagem que atesta a imortalidade da alma, a sobrevivência do espírito após a morte: o telefone só tocava dentro de sua casa, por certo com o concurso de algum médium nas redondezas !

Por isso, caro amigo se você também se encontra numa situação parecida com a da mãezinha de Ester.

Observe!!! A vida continua. A morte não rompe os laços de amor e fraternidade.
Sorria otimistamente para a vida!


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