
Seu pai
conhecidíssimo homem público.
Enviuvara
seis meses atrás quando dos fatos aqui narrados, embora ainda muito jovem,
dedicava todo o seu tempo, de moça rica e sem muitos afazeres domésticos a
cuidar da sua filha adorada, Ester.
Um dia,
a menina passou por certa problemática, e veio a desencarnar; embora os
recursos financeiros, clínica famosa e os melhores médicos e remédios...
Desse
dia em diante, a mãe passou das lágrimas ao desespero, e, caiu numa depressão
tamanha, que era somente amenizada com a visita diária ao túmulo da filhinha e,
depois ao do marido, vivendo entre os mortos alheia a tudo o que se passasse ao
redor.
Toda de
luto fechado, portando flores e vasos com plantas a senhora pegava diariamente
na porta da sua residência, nas Laranjeiras, um bonde e descia no Cemitério São
João Batista, em Botafogo. Voltava mais confortada para imediatamente cair em
depressão horas após... Os avós da criança, com quem ela morava, não sabiam
mais o que fazer... Tudo era em vão!
Os avós
estavam determinados em transferirem-se para o bairro de Copacabana mas Júlia
relutava em sair da residência onde fora feliz...
Certa
feita, seu pai, homem experiente e famosíssimo, notou que a filha não chorava
mais pelos cantos da bela residência. Até sorria enigmaticamente e, ele passou
disfarçadamente, a vigiar-lhe os passos. Algo deveria estar acontecendo...
Nesse
acompanhar disfarçado, os familiares passaram a perceber que ela não ia mais
tantas vezes ao cemitério durante a semana, não comprava tantas flores, nem
chorava tanto... Que estaria ocorrendo? Será que a filha passara da tristeza
para uma fase de loucura? Ela sorria...sorria...
Uma
serviçal da casa, que ali labutava há vários anos contou ao patrão que todo dia
às 18 horas o telefone tocava e a moça conversava, sorria, conversava, bem
baixinho, em surdina...
Então, o
ilustre homem passou a julgar que algum caça-dotes, sabendo da carência da
filha amada e do desencarne da sua netinha, por certo, num desses passeios de
bonde a teria conhecido e a estaria seduzindo! Seriam essas chamadas
telefônicas certamente feitas pelo que a estaria seduzindo com vãs promessas!
Quem seria? Algum conhecido? Num tempo em que pouquíssimas pessoas possuíam
tais aparelhos e em que as chamadas eram feitas por intermédio da telefonista,
quem saberia o número da residência palaciana onde moravam? Eram tão discretos
seus moradores...mas aquelas saídas de bonde...O telefone tilintou, a jovem
correu para atendê-lo.
Seu pai
muito envergonhado, mas certo de que fazia o melhor em benefício da família,
subiu ao segundo andar, pegou a extensão do escritório e , estarrecido ouviu
uma voz de criança a conversar com a mãezinha enlutada:
"-
Alô mamãe, são seis horas da noite; sou eu de novo, sua filha Ester, conforme
lhe prometi noutras chamadas telefônicas, aqui estou eu! Mãezinha, a morte não
existe! A vida continua! Não morri, mamãe! Moro somente noutro lugar. Você está
bem mais forte, estou gostando, continue sem chorar, sim? Não vá ao cemitério,
não estou lá, está bem?"
"-
Está bem minha amada filhinha, meu anjo, meu amor, prometo ser bem forte, não
chorar mais."
A voz
era realmente de Ester, contava fatos que somente eles sabiam mas só podia ser
uma brincadeira de alguém mal intencionado.
O famoso
político e escritor, pai da senhora e avô da desencarnada passou a ter a
convicção de que alguém, desejando molestar sua família fazia aquela
brincadeira de mau-gosto. Que, por enquanto, estava dando certo, pois percebia
a filha cada vez mais otimista... mas quando ela viesse a descobrir a farsa,
por certo ficaria em piores condições!!!
Com seu
prestígio, o ilustre conterrâneo conseguiu grampear todas as chamadas destinadas
à sua residência; funcionários competentes da companhia telefônica, ficaram nos
postes, em frente da casa, 24 horas, por vários dias, a fim de se descobrir
quem seria o autor daquela maldade.
Por uma
semana , sem faltar um dia sequer, o telefone tilintou às 18 horas, e, Júlia
conversou com Ester e foi se fortalecendo cada vez mais com a certeza de que a
filhinha estava ótima, onde se encontrava!
Após uma
semana, o laudo da companhia foi mandado em envelope lacrado para o morador,
para o assinante e dizia assim: "O telefone jamais tocou do poste, dos
fios, para sua residência; jamais a telefonista foi acionada para qualquer
chamada telefônica às 18 horas, a fim de completar qualquer chamada.."
Coelho
Neto perguntou então à querida filha:
"-
Como você faz a chamada?"
"-
Ora, papai quando eu lhe quero falar a chamo com o coração, com amor e ouço-lhe
a voz!"
Nosso
ilustre amigo, convocou familiares, conhecidos e admiradores, e, no amplo e
conceituado clube próximo de sua residência, o Fluminense Futebol Clube,
situado na Rua Álvaro Chaves, em Laranjeiras, contou a todos os que ali estavam
essa belíssima passagem que atesta a imortalidade da alma, a sobrevivência do
espírito após a morte: o telefone só tocava dentro de sua casa, por certo com o
concurso de algum médium nas redondezas !
Por
isso, caro amigo se você também se encontra numa situação parecida com a da
mãezinha de Ester.
Observe!!!
A vida continua. A morte não rompe os laços de amor e fraternidade.
Sorria
otimistamente para a vida!
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