Em Casa de Ferreiro o Espeto é de
Pau – “Padres no Divã”
Existem
algumas interpretações paralelas da doutrina de Jesus, entre ortodoxos e
gnósticos, que merecem nossos comentários. É com os gnósticos que o Espiritismo
mais se identifica em seu evangelho redivivo.
Os
ortodoxos, representados pelas religiões organizadas e que seguem os 04
evangelhos canônicos, evangelho de Mateus, Marcos, Lucas e João,
ensinam que a nossa ligação com Deus se dá através de Jesus, ou seja, pela
filiação à igreja, através de seus sacramentos. Concebem o Reino de Deus
como um lugar específico, exterior, chamado céu. É através da igreja que
o filiado “vai” ser conduzido a esse Reino. E ainda, que Jesus é o único
Filho de Deus, e outros preceitos e verdades interpretados a seu critério
que não vem ao caso agora.
Os
gnósticos se instruem com os evangelhos banidos pela igreja afirmam que todos
nós somos filhos de Deus, que Deus está presente na criatura, e que o
conhecimento de si mesmo pelo autodescobrimento, que nos leva ao
conhecimento de Deus. Esse é um trabalho de cada um, é um processo de
libertação. Cada um salva (liberta) a si mesmo, sem a necessidade de se
vincular a qualquer organização religiosa. Na verdade o que o gnostismo propõe,
é que cada um seja o engenheiro de sua libertação espiritual. A maior parte dos
estudiosos considera os evangelhos gnósticos mais próximos da doutrina de
Jesus, e mais particularmente, o evangelho de Tomé, que traz uma
percepção mais mística uma noção mais introspectiva com Deus dentro de nós
mesmos.
Sabe-se,
todavia que, em muitas ocasiões a historia foi escrita pelos vencedores,
detentores do poder temporal, por isso não trazem a verdade como ela é. Essa
simples explanação tem o objetivo de justificar a matéria que a Revista “Isto
é” nº 36 – Abr2012, que trouxe em suas paginas com o título “Padres no Divã”,
relatando sobre sacerdotes que recorrem a terapias ou a clínicas
especializadas, a fim de se tratarem de males como depressão, alcoolismo e
estresse.
A
igreja que até no século 18 declarava-se inimiga da ciência, condenando ao
patíbulo e a fogueira os grandes descobridores e gênios da ciência, agora pede
socorro à ciência, encaminhando seus sacerdotes para terapias, quando ela mesma
haveria de ter os recursos de que necessitam seus representantes, pois o
remédio está no Evangelho de Jesus, que ela diz defender, mas parece ignorar.
Lembrando, mais uma vez que a igreja, quando no início de sua organização, se
sentiu forçada a recorrer à filosofia de Platão e Aristóteles, para salvar a
pele da teologia Católica, trabalho monumental de São Tomaz de Aquino,
justamente ela que não admitia nenhum pensamento ou filosofia diferente da que
instituiu como verdade absoluta designada por dogmas.
O
problema é que os fiéis enxergam na figura do sacerdote o lenitivo para seus
males, como a igreja sempre ensinou colocando-se como intermediária entre Deus
e os homens, como vimos acima.
Ninguém carece de tornar-se dependente desse ou
daquele tipo de medicamento ou terapia para enfrentar-se. Os nossos problemas
se acentuam quando nos debruçamos sobre eles, lamentando-nos. Daí então,
buscamos alívio em fugas espetaculosas, pelas drogas, pelo fumo, pelo álcool ou
buscamos os jogos de azar. A expressiva soma de enfermidades físicas e mentais
atesta que o homem é um ser inacabado em razão disso, podemos dizer que só “há
doenças porque há doentes”, isto é, a doença é um efeito de distúrbios
profundos no campo da energia pensante, o espírito. A análise feita
por psicólogos e o tratamentos por medicamentos, se por um lado favorecem, em
outros podem danificar os tecidos mais sutis da organização psicológica, disso
a necessidade de um tratamento de ordem espiritual para harmonizar a mente,
corpo e espírito. A dissociação e fragmentação da personalidade, alucinações,
neuroses e psicoses são exteriorizações que estão impressas no inconsciente do
indivíduo. Todos esses desajustes têm suas raízes na conduta do paciente, que
traz de reencarnações passadas quando se desarmonizou interiormente.
Alguns
estudiosos admitem a carga genética ou fixações da infância, outros alegam os
dispositivos da estressante vida moderna que resultam do competitivíssimo,
tecnologia e poluições de várias ordens que nos condicionam a rotina e a
ansiedade, no que, aliás não estão errados, todavia, esquecem-se estes
estudiosos da problemática espiritual do alienado pela neurose.
O neurótico é
antes de tudo um Espírito prisioneiro, devedor em inadiável processo
purificador, recambiado à reencarnação por necessidade premente de esquecer
delitos do passado e logo repará-los. As doenças orgânicas se instalam em decorrência
das necessidades de reparação, ou da quitação de débitos, convocando o ser à
reflexão, ou autodescobrimento e reformulações que nos levam ao equilíbrio. A
mente equilibrada comanda o corpo em harmonia e neste intercâmbio, surgira a
saúde ideal.
Daí a
máxima de Sócrates “Conhece-te a ti mesmo”, que sabia da necessidade de se
educar não somente o cérebro, mas, sobretudo, o espírito. E Jesus viera
igualmente nos dar essa visão grandiosa da educação, não só do lado corpóreo,
mas antes de tudo o lado espiritual. Assim no sermão do Monte dissera: “Buscai
em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça e o resto vos será
acrescentado.”; – “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Todos
dizem trabalhar para Jesus, porém, a maioria trabalha para manter suas ligações
puramente materiais. Pois mesmos os religiosos que defendem a existência de
Deus e suas Leis, tentam a todo o momento, adaptar os ensinamentos dos grandes
missionários e do próprio Jesus, à suas conveniências.
“Dai
gratuitamente o que de graça recebeste”, no entanto, ainda vemos os que
negociam a misericórdia divina, os que vendem produtos miraculosos, os que
pedem contribuição para levantar templos suntuosos de cimento e aço, e ainda,
os que impõem contribuições a assalariados que mal sustentam a família. Em
regra geral, nós todos somos portadores de grandes dificuldades íntimas,
necessitados de retificação. Mas o trabalho de purificar-se não é tão simples
quanto parece, daí nosso fracasso, quando não acreditamos em nós mesmos com fé
em Deus.
Será
muito fácil ao homem confessar a aceitação das verdades religiosas, ou efetuar
a adesão verbal em forma de juramento às ideologias edificantes. Outra coisa,
porém, é realizar a obra de elevação de si mesmo, valendo-se da autodisciplina,
de compreensão fraternal e do espírito de sacrifício. Não faltam exemplos que
viveram sob a égide da igreja romana, tais como: Francisco de Assis, Tereza
D’Avila, Vicente de Paula, João Batista Vianney Cura Dars, Madre Tereza de
Calcutá e outros modelos de mais simples envergadura que servem de exemplos
para todos nós. O estudo do Espiritismo pode nos oferecer princípios de uma
filosofia robusta e a possibilidade de adquirir uma fé consoladora e firme,
baseada em fatos irrecusáveis.
por
Adauto Reami - Obras Consultadas: – O Homem Integral, Luz Viva eAutodescobrimento,
Uma busca interior – Divaldo Pereira Franco. O Evangelho de Tomé, Elo Perdido –
de José Lazaro Boberg
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