terça-feira, 12 de março de 2013

Mendigo de afeto

Caridade é Amor em movimento. E como recurso, o tempo para aprender e praticar, assim nos ensina o Evangelho.
Lembram-nos os Espíritos Superiores que o homem é um dínamo produtor de força que vem descobrindo e administrando, desde a sua criação, tudo quanto o cerca, e “à medida que penetra a sonda do conhecimento no que jazia ignorado, descobre a harmonia em tudo presente, identificando um fator comum, causal, predominando em a Natureza, que pode ser decodificado como sendo o hálito do Amor, do qual surgiram os elementos 
constitutivos do Cosmo”.³

Assim, somente quando conseguimos identificar essa força – Amor – é que temos condição de utilizá-la de forma consciente em nosso benefício e em benefício de tudo que esteja em nosso redor. Cada ser vivente absorve as emanações que vêm dela ou, então, sente a sua ausência. É dessa forma que as plantas, os animais e, sobretudo, o homem - muito mais perceptível a elas - vivem em função do amor ou desequilibram-se em razão de sua carência.
“Enquanto a irradiação do ódio, da suspeita, do crime, da inveja, da sensualidade são portadoras de elementos nocivos, com alto teor de energias destrutivas, o amor emite ondas de paz, de segurança, sustentando o ânimo alquebrado pela confiança que transmite, de bondade pelo exteriorizar do afeto, de paz em razão do bem-estar que proporciona, de saúde como efeito da fonte de onda de onde se origina”.³ Ao conseguirmos canalizar essa energia, vemo-la transformar-se em elemento terapêutico, que minimiza sofrimentos ou cura dores físicas e morais, em benefício de quem a emite e de quem a recebe.


Por ser a caridade o Amor em movimento, percebemos que ela é muito mais ampla do que aquela que se exterioriza na doação material de qualquer quilate. Abrange, sim, todos os instrumentos que Deus colocou à nossa disposição para vivenciá-la, ainda que não tenhamos consciência disso, nas diferentes vidas planetárias pelas quais transitamos e transitaremos ainda: nossos pés, nossas mãos, a inteligência, nosso conhecimento, a capacidade que temos de ouvir, falar, ver, nosso tempo, nossa vontade de querer, realmente, olhar o outro e vê-lo.
As Entidades superiores falam-nos dessa caridade – a caridade moral – que busca atender as necessidades do sentimento do outro, que nada custa e, no entanto, é a mais difícil de ser praticada, porque envolve doação de sentimentos que ainda não temos, suficientemente, desenvolvidos. 
Então, sob essa ótica, só é caridoso quem dispensa tempo para olhar para o outro e perceber suas necessidades; ouvir o outro e compreender suas aflições; falar com o outro e levar a palavra que consola e reconforta e que, acima de tudo, traz esperança. Só é caridoso quem entende que caridade não se resume no bem material, seja ele qual for – importante, sem dúvida – mas atende aos rogos daquele que, mesmo tendo tudo, nada tem em atenção e carinho, que possam lhe ser dispensado em troca de nada. Estamos falando dos mendigos de afeto.


Emmanuel baliza, de forma lúcida e clara, de que maneira aquele que já abraçou o Espiritismo pode auxiliar o próximo, sem levar em conta, tão-somente, a ajuda material. Diz ele:
– “Se já pode receber o amparo do Espiritismo, sustenta a obra espírita, a fim de que a obra espírita continue a auxiliar.
– Não sonegue o ensino e nem fuja do bem que possa fazer”.²
“Quantos esperam de alguém um aviso fraterno, uma palavra de entendimento, um livro tonificante ou um gesto de apoio, para evitar a queda iminente!...”² São os infortúnios ocultos dos quais nos fala o Evangelho.¹
Espíritas, reflitam nas aflições que se escondem sob os rituais da etiqueta e tenha compaixão; observem as obsessões ardilosamente embutidas nas inteligências usadas para atingirem objetivos nem sempre honestos, nem sempre edificantes e compreendam que esses seres – como nós próprios – ainda não atingiram a consciência espiritual; orem pelos bons, almas acordadas para a luz, e que enfrentam tantos obstáculos para ceder totalmente ao Bem. São dores bem vestidas, remorsos que corroem consciências, corações revoltados que não aceitam a despedida de entes queridos que a morte, momentaneamente, separou... Mascarados de alegria, trazendo no peito um vaso de lágrimas; sucesso, fama, carregando consigo dificuldades e provações, mendigando socorro espiritual...
Do ponto de vista moral, há muitos infortúnios escondidos por toda parte, nos mais diferentes ambientes, nos momentos em que menos se espera, de pessoas que jamais pensaríamos sofrerem. O pranto pode cair às escondidas e a aflição surgir inesperada. Por tudo isso, a verdadeira caridade deve ir além das aparências, além dos julgamentos pessoais. Compreender, perdoar, ajudar silenciosa e desinteressadamente é nossa tarefa – se já recebemos as luzes do Evangelho – onde estivermos, como for necessário e tanto quanto seja possível.
Emmanuel toca nossos corações quando lembra que há sombras e sombras. Que “para repelir as que assaltam os olhos basta o conhecimento da luz, mas para dissipar as que envolvem a alma será preciso a luz do conhecimento. Deixa assim, que o Espiritismo – a refletir o Sol do Evangelho – ilumine a vida atrás de ti”.²


Leda Maria Flaborea

Bibliografia
1 – KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo , Cap. XIII. Item 4.
2 – EMMANUEL (Espírito) – Estude e Viva – [psicografado por F.C.Xavier e Waldo Vieira] –6ª ed., FEB – Rio de Janeiro/RJ, 1986, lição 12.
3 – JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito) – Amor, Imbatível Amor – [psicografado por Divaldo Pereira Franco]8ªed., LEAL Editora – Salvador/BA – P. 242-243.


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